Depois da participação, inédita na história da Federação Portuguesa de Minigolfe, da Associação Cultural dos Surdos de Águeda (ACSA) na Taça de Portugal, decidimos falar com Liliana Loureiro, a Intérprete de Língua Gestual Portuguesa, que acompanha este grupo desde 2013, e que prontamente aceitou o nosso convite.
Lembramos que a ACSA se iniciou no minigolfe através de uma parceria criada com o Clube Minigolfe da Costa Nova.
Temos acompanhado o percurso da ACSA nesta modalidade desde o início. Enquanto Intérprete de Língua Gestual Portuguesa (LGP) deste grupo qual foi a sua primeira reação a esta parceria? Considera ter sido uma mais valia para estes jovens?
Nós como Intérpretes LGP temos de ser imparciais relativamente às decisões/escolhas da pessoa surda.
Só conhecia esta modalidade em recreio e não fazia ideia de toda a complexidade que a envolve.
Sim, sem dúvida esta parceria é uma mais-valia, dá-nos a oportunidade de desenvolver competências pessoais, sociais, entre outras.
Quais foram as principais barreiras a serem ultrapassadas para alcançar o sucesso nesta parceria? Considera ter sido fundamental os treinadores do Clube Minigolfe da Costa Nova (CMCN) terem tido aulas de LGP?
Uma das principais barreiras desta comunidade é sem dúvida a barreira da comunicação. Mas o apoio financeiro do INR (Instituo Nacional para a reabilitação), também foi imprescindível.
Sim, o interesse demonstrado pelos treinadores e por toda a equipa do STAFF do CMCN pela Língua e Cultura Surda foi um passo fundamental, não só para a comunicação, como também para a consolidação de um grupo de trabalho.
Quando vão praticar já não precisam de levar intérprete sentem-se em casa.
Já alguma vez jogou minigolfe? No seu entender esta é uma modalidade inclusiva?
Tentei jogar no primeiro dia em que fomos ao CMCN, mas não cheguei ao fim da primeira volta, como tudo era novidade estavam-me sempre a chamar para ir traduzir/interpretar.
Estamos no bom caminho para a inclusão, apesar desta modalidade ter a presença de pessoas tendencialmente excluídas na sociedade, ainda falta uma grande sensibilidade perante os outros participantes e também da própria Federação.
Mas num futuro próximo sim, acredito que vai ser 100% inclusiva. Não nos podemos esquecer que estamos neste meio há meia dúzia de meses.
Desde já quero salientar o trabalho que CMCN tem feito com o grupo ACSA. E a constante luta pela inclusão dos mesmos.
Que benefícios pode a prática de minigolfe trazer para os atletas da ACSA?
Esta modalidade oferece-nos muitas vantagens, tais como: novas aprendizagens, novas oportunidades, a integração, o combate ao isolamento social, promoção da prática desportiva, entre muitos outros fatores.
Como vê a inclusão dos atletas da ACSA na Taça de Portugal de Minigolfe? Gostaria de ver mais desportos a seguirem este caminho?
Eles são muito competitivos e não gostam de perder nem a feijões. Mas o facto de jogarem surdos contra surdos, já sabem antecipadamente quem vai ser o vencedor e desta forma acabam por perder o interesse e a competitividade.
Como são principiantes é natural que assim seja, tem de praticar mais para poderem chegar ao mesmo nível dos outros profissionais e assim fazerem parte do mesmo campeonato.
Para além do seu trabalho enquanto Intérprete na ACSA, está atualmente envolvida em mais algum projeto? Gostaria de partilhar connosco?
Tenho projetos em standby, neste momento estou a tirar outra licenciatura (enfermagem), com o trabalho e escola, não tenho muito tempo livre.
Para terminar, recomendaria o minigolfe a outras associações/instituições enquanto um desporto de todos e para todos?
Sim sem dúvida.